Carta-1
de Santa Clara à Inês de Praga
À venerável e santa virgem, dona Inês, filha do
excelentíssimo e ilustríssimo rei da Boêmia, Clara, indigna fâmula de
Jesus Cristo e serva inútil das senhoras enclausuradas do mosteiro de São
Damião, sua serva sempre submissa, recomenda-se inteiramente e deseja, com
especial reverência, que obtenha a glória (cfr. Sir 50,5) da
felicidade eterna.
Sabedora da boa fama de
vosso santo comportamento e vida, que não só chegou até mim, mas foi
esplendidamente divulgada em quase toda a terra, muito me alegro e exulto
no Senhor (cfr. Hab 3,18).
Disso posso exultar tanto eu mesma como todos os que prestam
serviço a Jesus Cristo ou desejam fazê-lo. Porque, embora pudésseis gozar, mais
do que outros, das pompas e honras deste mundo, desposando legitimamente, com a
maior glória, o ilustre imperador, como teria sido conveniente à vossa
excelência e à dele, rejeitastes tudo isso e preferistes a santíssima pobreza e
as privações corporais, com toda a alma e com todo o afeto do coração, tomando
um esposo da mais nobre estirpe, o Senhor Jesus Cristo, que guardará vossa
virgindade sempre imaculada e intacta.
Amando-o, sois casta;
tocando-o, tornar-vos-eis mais limpa; acolhendo-o, sois virgem.
Seu poder é mais forte,
sua generosidade mais elevada, seu aspecto é mais belo, o amor mais suave, e
toda a graça mais elegante.
Já estais tomada pelos
abraços daquele que ornou vosso peito com pedras preciosas e colocou em vossas
orelhas pérolas inestimáveis.
Ele vos envolveu de gemas
primaveris e coruscantes e vos deu uma coroa de ouro marcada com o
sinal da santidade (Sir 45,14).
Portanto, irmã caríssima, ou melhor, senhora muito digna de
veneração, porque sois esposa, mãe e irmã (cfr. 2Cor 11,2; Mat
12,50) do meu Senhor Jesus Cristo, destacada pelo esplendor do estandarte
da inviolável virgindade e da santíssima pobreza, ficai firme no santo serviço
do pobre Crucificado, ao qual vos dedicastes com amor ardente.
Ele suportou por
todos nós a paixão (Hb 12,2) da cruz e nos arrancou do poder do
príncipe das trevas (Col 1,13), que nos acorrentava pela
transgressão de nosso primeiro antepassado, e nos reconciliou (2Cor
5,18) com Deus Pai.
Ó bem-aventurada pobreza, que àqueles que a amam e abraçam
concede as riquezas eternas.
Ó santa pobreza!
Aos que a têm e desejam Deus prometeu o reino dos céus (cfr.
Mat 5,3), e são concedidas sem dúvida alguma a glória eterna e a vida feliz!
Ó piedosa pobreza, que o
Senhor Jesus Cristo dignou-se abraçar acima de tudo; ele que regia e rege o céu
e a terra; ele que disse e tudo foi feito (Sl 32,9; 148,5)!
Pois disse que as raposas têm tocas e os passarinhos têm ninhos mas o
Filho do Homem, Jesus Cristo, não tem onde reclinar a cabeça (Mt
8,20).
Mas, inclinando a
cabeça, entregou o espírito (Jo 19,30).
Portanto, se tão grande e elevado Senhor, vindo a um seio
virginal, quis aparecer no mundo desprezado, indigente e pobre, para que
os homens, paupérrimos e miseráveis, na extrema indigência do alimento
celestial, nele se tornassem ricos possuindo os reinos celestes, vós
tendes é que exultar e vos alegrar (cfr. Hab 3,18) muito,
repleta de imenso gáudio e alegria espiritual, pois tivestes maior prazer
no desprezo do século que nas honras, preferistes a pobreza às riquezas
temporais e achastes melhor guardar tesouros no céu que na terra, porque lá nem
a ferrugem consome nem a traça rói, e os ladrões não saqueiam nem roubam (Mt
6,20). Vossa recompensa será enorme nos céus (Mt 5,12), e
merecestes ser chamada com quase toda a dignidade de irmã, esposa e
mãe (cfr. 2Cor 11,2; Mt 12,50) do Filho do Pai Altíssimo e da gloriosa Virgem.
Creio firmemente que
sabeis que o reino dos céus não é prometido e dado pelo Senhor
senão aos pobres (cfr. Mt 5,3), porque, quando se ama uma
coisa temporal, perde-se o fruto da caridade.
Sabeis que não se
pode servir a Deus e às riquezas, porque ou se ama a um e se odeia
às outras, ou serve-se a Deus e desprezam-se as riquezas (cfr.
Mt 6,24).
Sabeis que, vestido, não pode lutar com nu, pois vai mais
depressa ao chão quem tem onde ser agarrado.
Sabeis que não dá para ser glorioso no mundo e lá reinar com
Cristo; e que é mais fácil o camelo passar pelo buraco da agulha que o
rico subir ao reino do céu (cfr. Mat 19,24).
Por isso vos livrastes
das vestes, isto é, das riquezas temporais, para não sucumbir de modo algum ao
lutador e poder entrar no reino dos céus pelo caminho duro
e pela porta estreita (cfr. Mt 7,13-14).
Que troca maior e mais louvável: deixar as coisas temporais
pelas eternas, merecer os bens celestes em vez dos terrestres, receber
cem por um e possuir a vida (cfr. Mt 19,29) feliz
para sempre!
Por isso achei bom
suplicar vossa excelência e santidade, na medida do possível, com humildes
preces, nas entranhas de Cristo (cfr. Fp 1,8), que vos deixeis
fortalecer no seu santo serviço, crescendo de bem para melhor, de
virtude em virtude (cfr. Sl 83,8), para que aquele que servis com todo
desejo do coração digne-se dar-vos os desejados prêmios.
Quanto me é possível, também vos suplico no Senhor que vos
lembreis em vossas santas preces (cfr. Ro 15,30) de mim, vossa
serva, embora inútil, e das outras Irmãs que vivem comigo no mosteiro e vos
apreciam.
Que com a ajuda dessas preces possamos merecer a misericórdia
de Jesus Cristo, para gozar junto a vós da eterna visão.
Que o Senhor vos guarde. Orai por mim (cfr. 1Te
5,25).
Justiça, Paz
e Integridade da Criação
Altíssimo, Onipotente, Bom Senhor
Teus
são o louvor, a glória, a honra e toda a bênção. Somente a Ti, ó
Altíssimo, eles convêm,
e homem algum é digno de mencionar-Te.
Louvado sejas, meu Senhor, com todas as Tuas criaturas, especialmente
o senhor irmão sol, o qual é dia, e por ele nos iluminas. E ele é belo e
radiante com grande esplendor, de Ti, Altíssimo, traz o significado.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e pelas estrelas, no
céu as formaste claras e preciosas e belas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento,
e pelo ar e pelas nuvens e pelo sereno e todo o tempo,
pelo qual às tuas criaturas dás sustento.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água,
que é mui útil e humilde e preciosa e casta.
Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo
pelo qual iluminas a noite, e ele é belo e agradável e robusto e forte.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa, a mãe
terra que nos sustenta e governa e produz diversos frutos com coloridas flores
e ervas.
Louvado sejas, meu Senhor, pelos que perdoam pelo teu amor, E
suportam enfermidade e tribulação. Bem aventurados aqueles que as suportarem em
paz, porque por ti, Altíssimo, serão coroados.
Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã nossa, a morte corporal, da qual nenhum homem
vivente pode escapar.
Ai
daqueles que morrerem em pecado mortal:
bem-aventurados os que ela encontrar na tua santíssima vontade, porque a
morte segunda não lhes fará mal!
Louvai e
bendizei ao meu Senhor,
e rendei-lhe graças e servi-o com grande humildade.
São Francisco de Assis
ORIENTAÇÕES SOBRE
Promoção Vocacional
nas Fraternidades de O.F.S.
Promoção Vocacional é a segunda agenda mais importante na vida de uma Fraternidade de O.F.S. Deve fazer parte, inclusive, da Formação Permanente dos seus membros.
|
|
2.
|
VOCAÇÃO
significa chamado. Chamado de
Cristo.
Portanto,
ANIMAÇÃO VOCACIONAL
antes de tudo
é fazer com que a
própria Fraternidade esteja atenta ao chamado
de Cristo. E se colocar a serviço.
|
3.
|
Toda
Fraternidade de O.F.S. deve se desenvolver na prática do serviço a Jesus; em
Sua Igreja. porque é este o significa de arautos
do Senhor, como Francisco de Assis se intitulava em sua juventude:
aqueles que
chamam pessoas para servir na obra do Senhor Jesus. Ou seja, aqueles que evangelizam
e chamam para evangelizar.
|
4.
|
Uma das
formas simples e permanente de a Fraternidade despertar
pessoas para esse chamado (vocação) é através da prática de trabalhos
missionário-apostólicos.
Uma Fraternidade
de O.F.S. não deve se acomodar numa vida de meras reuniões mensais;
convivências fraternas; e, com trabalhos, no máximo, de apenas boa
participação na vida paroquial. Isso é o mínimo.
Além de
tudo isso,
ela há de
ser e exercitar uma permanente missionariedade
apostólica. Fazer o que o atual Papa, Francisco, vem chamando de “Igreja em saída”.
|
5.
|
Outra forma
de despertar pessoas para o chamado é através de Projetos sociais voltados para a visibilidade de nossa identidade
cristã-franciscana.
|
6.
|
A Promoção
Vocacional pode e deve também aproveitar-se das datas franciscanas, ou vinculadas
a santos franciscanos, como oportunidades para convidar pessoas para essa sua
missionariedade, de forma franciscana, a serviço de Deus.
Mas não
deve se conformar nessas datas ao mero testemunho de “devotos” de São
Francisco de Assis. Não foi esse, e continua não sendo esse o chamado que
recebemos. Mas sim, “construir a Igreja
de Cristo”.
|
7.
|
Outro ponto,
a Pastoral de Jovens específica da
Família Franciscana (JUFRA) deve ser agenda permanente na vida de todas as
Fraternidades de OFS.
Por isso,
cada Fraternidade
Local deve ter como agenda permanente: implantar e manter pelo menos uma
Fraternidade de JUFRA. Pois fazer a JUFRA acontecer está entre as agendas
básicas de nossa Promoção Vocacional.
|
8.
|
Mas outra área, além da juvenil, e com
possibilidades imediatas para nossa Promoção Vocacional, é a agenda FAMÍLIA.
Toda Fraternidade
de O.F.S., por ser formada basicamente por leigos, tem de ter a agenda “família”
posta de forma consistente e permanente sobre a mesa.
Sabendo fazê-la
dela vem a JUFRA, em todas as suas dimensões: desde a faixa criança à
juvenil.
|
9.
|
No Conselho da
Fraternidade a Promoção Vocacional não é agenda exclusiva de um departamento,
mas pode também se desenvolver em meio a todas as demais agendas dos outros
departamentos. Por exemplo, no da Comunicação.
|
HOMILIA DO PAPA FRANCISCO AS CHAGAS DE CRISTO
CIDADE DO VATICANO, 12 / 04 / 2015
ão João, presente no Cenáculo com os outros
discípulos ao anoitecer do primeiro dia da semana, refere que Jesus veio,
pôs-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco!». E «mostrou-lhes as mãos
e o peito» (20, 19-20), mostrou-lhes as suas chagas. Reconheceram, assim, que
não se tratava duma visão, mas era mesmo Ele, o Senhor, e encheram-se de
alegria.
Oito dias depois, Jesus veio de novo ao
Cenáculo e mostrou as chagas a Tomé a fim de que as tocasse como ele pretendia
para poder acreditar e tornar-se, também ele, uma testemunha da Ressurreição.
Hoje, neste Domingo que São João Paulo II quis
intitular à Misericórdia Divina, o Senhor mostra-nos também a nós, através do
Evangelho, as suas chagas. São chagas de misericórdia.
É verdade! As chagas de Jesus são chagas de
misericórdia. «Fomos curados pelas suas
chagas» (Is 53, 5).
Jesus convida-nos a contemplar estas chagas,
convida-nos a tocá-las – como fez com Tomé – a fim de curar a nossa
incredulidade. Convida-nos sobretudo a entrar no mistério destas chagas, que é
o mistério do seu amor misericordioso.
Através delas, como por uma brecha luminosa,
podemos ver todo o mistério de Cristo e de Deus: a sua Paixão, a sua vida
terrena – cheia de compaixão pelos pequeninos e os doentes – a sua encarnação
no ventre de Maria. E podemos remontar a toda a história da salvação: as
profecias – especialmente as do Servo de Yahweh –, os Salmos, a Lei e a aliança,
até à libertação do Egito, à primeira Páscoa e ao sangue dos cordeiros
imolados; e remontar ainda aos Patriarcas até Abraão e, mais além na noite dos
tempos, até a Abel e ao seu sangue que clama da terra. Tudo isto podemos ver
através das chagas de Jesus Crucificado e Ressuscitado e, como Maria no Magnificat,
podemos reconhecer que «a sua misericórdia se estende de geração em geração» (Lc 1,
50).
Às vezes, perante os acontecimentos trágicos da
história humana, ficamos como que esmagados e perguntamo-nos: «Porquê?». A
maldade humana pode abrir no mundo como que fossos, grandes vazios: vazios de
amor, vazios de bondade, vazios de vida. E surge-nos então a pergunta: Como
podemos preencher estes fossos? A nós, é impossível; só Deus pode preencher
estes vazios que o mal abre nos nossos corações e na nossa história. É
Jesus, feito homem e morto na cruz, que preenche o abismo do pecado com o
abismo da sua misericórdia.
Num dos seus comentários ao Cântico dos Cânticos
(Disc. 61, 3-5: Opera omnia 2, 150-151), São Bernardo detém-se
precisamente sobre o mistério das chagas do Senhor, usando expressões fortes,
corajosas, que nos faz bem retomar hoje. Diz ele que, «através das feridas do corpo, manifesta-se a recôndita caridade do
coração [de Cristo], torna-se evidente o grande mistério do amor, mostram-se as
entranhas de misericórdia do nosso Deus».
Temos aqui, irmãos e irmãs, o caminho que Deus nos
abriu, para sairmos, finalmente, da escravidão do mal e da morte e entrarmos na
terra da vida e da paz. Este Caminho é Ele – Jesus, Crucificado e Ressuscitado
– e são-no, de modo particular, as suas chagas cheias de misericórdia.
Os Santos ensinam-nos que se muda o mundo a
partir da conversão do próprio coração, e isto acontece graças à misericórdia
de Deus. Por isso, quer perante os meus pecados, quer diante das grandes
tragédias do mundo, «a consciência sentir-se-á turvada, mas não será abalada,
porque me lembrarei das feridas do Senhor. De fato, “foi trespassado por causa dos nossos crimes” (Is 53, 5). Que haverá de tão mortal que não possa ser
dissolvido pela morte de Cristo?» (ibid.).
Com o olhar voltado para as chagas de Jesus Ressuscitado,
podemos cantar com a Igreja: «O seu amor
dura para sempre» (Sal117, 2); a sua misericórdia é eterna. E, com
estas palavras gravadas no coração, caminhemos pelas estradas da história, com
a mão na mão de nosso Senhor e Salvador, nossa vida e nossa esperança.
O ”Ouvi, pobrezinhas”, ou “Audite Poverelle” é o escrito de São Francisco descoberto mais
recentemente, em 1976. Nós o devemos ao franciscano João Boccali.
Já se sabia, pela Compilatio Assisiensis, n.85, que São
Francisco escrevera umas “palavras de consolação” para as Irmãs de São Damião,
na mesma ocasião em que compôs o Cântico do Irmão Sol. Sabia-se até que se
tratava de um cântico ritmado e com música; e mesmo o seu conteúdo era
conhecido. Mas o texto foi encontrado em dois manuscritos do começo do século
XIV pelo Pe. Bocalli, que seguiu as indicações de duas clarissas estudiosas e o
localizou no mosteiro de São Fidêncio em Novaglie. Boccali deu-lhe o nome de
“Palavras de Exortação”. Dois anos depois, publicou um estudo crítico, ao qual
se seguiram outros.
O texto original está no mesmo dialeto antigo do vale de Espoleto em que
foi composto o Cântico do Irmão Sol.
A publicação do Pe. Bocalli foi feita em Forma Sororum 14
(1977) e em Collectanea Francescana 48 (1978).
Texto explicativo extraído do site:
Província
dos Frades Menores Capuchinhos de Minas Gerais
SOBRE AS RELÍQUIAS DOS SANTOS
Texto de
reflexão para o Capitulo Avaliativo da OFS Nordeste B3, Bahia-Sergipe
Feira de
Santana, 11 a 13 de novembro de 2016
Caríssimos, caríssimas irmãs e irmãos da
Ordem Franciscana Secular, Regional B3 – Bahia e Sergipe. Paz e bem!
Venho em nome do nosso Provincial Frei Liomar
Pereira da Silva, ofmcap – Bahia e Sergipe, para falar-vos sobre o valor de uma
relíquia:
Digo-vos que estamos vivendo dias, meses de
graça com o itinerário da Relíquia de um Santo, diga-se de passagem, não de um
santo apenas. Mais do Santo, que é nosso Pai espiritual, São Francisco de
Assis, graças a feliz iniciativa dos nossos irmãos terceiros – Ordem
Franciscana Secular que vivendo no clima dos festejos dos 800 anos do
franciscanismo nos oferece um intimo contato com Deus, através da Sacra Relíquia de São Francisco de Assis.
A palavra relíquia tem sua origem do latim reliquiae, quer dizer resto. É o resto
do que ficou, ou que restou. É uma memória física, um testemunho vivo de um
Santo, ou de um beato.
Para a Igreja Católica sempre teve um valor
muito grande, porque as Relíquias nos transporta a um momento histórico
concreto como um resto, uma presença, uma passagem histórica...Primeiro exemplo
ou sinal do culto de uma relíquia surge no ano de 156, em Smyrna (atual Esmirna na Turquia), a
propósito do martírio de São Policarpo relatado por
exemplo, nas obras de Eusébio de Cesaréia.
Outro valor dado a uma relíquia é a relação
espiritual que o Santo teve com o Senhor Deus, uma relação sagrada. Alimentou o
seu corpo com a sagrada Eucaristia. O valor o corpo de um batizado, pela união
da graça, é um corpo-templo do Espirito Santo. Mas, o corpo de um santo é ainda
mais por que soube viver e ser conduzido pelo Espírito Santo a uma perfeita
comunhão da graça com Deus, porque viveu na sua carne esta santidade, s o seu
corpo foi habitado pela mesma Graça em maneira solene. A Relíquia permite
manter-nos em contato com este corpo. Na história, as relíquias tiveram também
um papel importante no combate contra o espírito do mal, porque a Relíquia não
é amada pelo diabo, pois é a realidade física que teve uma relação especial com
a Graça.
Algumas pessoas ficam assustadas em pleno
século XXI, quando descobrem que a Igreja Católica, ainda hoje,
permite a veneração dos corpos dos santos e mártires falecidos. Questionam-nos:
Por que essa prática persiste até os tempos atuais? Não seria isso resquício de
uma superstição pagã e contrária ao Evangelho? Qual o sentido verdadeiro da
veneração às relíquias?
A melhor forma de responder a esse tipo de
indagação é apresentada na Suma Teológica de São Tomas de Aquino que diz: “Por
isso, o próprio Deus honra como convém a suas Relíquias, pelos milagres que faz
na presença deles”.
Apesar disso, mesmo que não se creia nos
relatos de inúmeros milagres e curas que ocorreram pelo contato com os corpos
ou roupas dos santos da Igreja, não se pode negar o conteúdo da Sagrada
Escritura: Apanhou o
manto que Elias deixara cair, e voltando até o Jordão, parou à beira do rio.
Tomou o (pegou) o manto que Elias deixara cair, feriu com ele as águas,
dizendo: Onde está o Senhor, o Deus de Elias? Onde está ele? Tendo as águas, estas
se separaram para um e outro lado, e Eliseu passou. II Rs 13,21
· Ora aconteceu
que um grupo de pessoas, estando para enterrar um homem, viu uma turma desses
guerrilheiros e jogou o cadáver no tumulo de Eliseu, voltou à vida, e pôs-se de
pé. II Rs, 2, 13-14
· Ora, uma
mulher que estava atormentada por um refluxo de sangue, havia doze anos,
aproximou-se dele por trás e tocou-lhe a orla do manto. Dizia consigo: Se eu
apenas tocar na sua vestimenta, serei curada. Jesus virou-se, viu-a e
disse-lhe: tem confiança, minha filha, tua fé te salvou. E a mulher ficou
curada instantaneamente. Mt 9, 20-22;
·
As pessoas do
lugar o reconheceram e mandaram anunciar por todos os arredores.
Apresentaram-lhe, então, todos os doentes, rogando-lhe que ao menos deixasse
tocar na orla de sua veste. E, todos aqueles que tocaram, foram curados. Mt 14,
35-36.
· Deus fez
milagres extraordinários por intermédio de Paulo, de modo que lenços e outros
panos que tinham tocado o seu corpo eram levados aos enfermos e afastavam-se
deles as doenças e retiravam-se os espíritos malignos. At 19, 11-12.
Logo, é o próprio Deus quem venera os restos
mortais (relíquias) de seus santos, conforme São Tomas de Aquino.
No Concilio de Trento, os padres conciliares
aprovaram o “Decreto sobre a invocação, a veneração e das relíquias dos santos
cobre as imagens sagradas”, em 03 de dezembro de 1563, que diz: “Devem ser
veneradas pelos fiéis os santos corpos dos santos mártires e dos outros que
vivem com Cristo, corpos que foram membros vivos do mesmo Cristo e templo do
Espírito Santo, que por ele devem ser ressuscitados para a vida eterna e
glorificados e pelos quais Deus concede aos homens muitos benefícios. Por isso,
os que afirmam que às relíquias dos santos não se deve veneração nem honra, ou
que inutilmente os fiéis as honram como também a outros monumentos sagrados, e
que em vão frequentam as memórias dos Santos para obter o seu auxilio, todos
devem ser absolutamente condenados como já outrora a Igreja os condenou e
também agora dos condena.”
Os corpos ressuscitarão e é justamente porque
serão divinizados que hoje os corpos dos santos são utilizados por Deus para
distribuir aos homens suas graças divinas. Trata-se de algo belo ser cristão e
mais: ser católico, pois, assim é possível compreender que o que mais importa,
sem duvida, é a alma, mas que os frágeis corpos não são desprezados por Deus e,
tal como São Francisco, que se referia o seu corpo como o “Irmão Jumento”,
podem ser instrumentos para servir a Deus.
Os corpos dos Santos que serviram a Nosso
Senhor Jesus Cristo são para Deus lembranças belíssimas do amor com que se consumiram.
Corpos verdadeiros que se doaram; que se gastaram por Amor. Enquanto o mundo idolatra corpos nus de
formas perfeitas e belas, nós Católicos veneramos corpos que se gastaram,
derramaram o próprio sangue por amor a Cristo.
Por isso as Relíquias são reflexos de Deus, diante
do que deles restaram, temos que ter um profundo respeito e devoção e os
favores espirituais ou temporais que devemos pedir-lhes são aqueles que sejam
para sanar uma necessidade nossa.
Classificação de Relíquias
A Igreja Católica definiu a seguinte
classificação de relíquias:
·
Primeira
classe, isto é (ex ossibus, ex corpore, ex carne, ex pulvere, etc). Parte do
corpo de um santo (ossos, unhas, cabelo, etc);
·
Segunda
classe, isto é (ex indumentis, ou similar) objetos pessoais de um santo
(roupa, cajado. breviário, etc);
·
Terceira
classe, isto é (ex brandea) de contato. Inclui pedaços de tecido que tocaram
no corpo do santo, ou no relicário onde uma porção do seu corpo está
conservada.
Existe ainda uma classificação especial relacionada
às relíquias de Nosso Senhor Jesus Cristo: Applicasse et Lanceae Domini Cúspide (Santa
lança), coronse Spinse D.N.J.C. (Coroa de espinhos de Nosso Senhor
Jesus Cristo), aplicasse et vivicae crucise (Verdadeira Cruz)
Domini Nostri Jesu Christi, DNJC – Nosso Senhor Jesus Cristo.
É
proibido sob pena de excomunhão, vender, trocar ou exibir para fins lucrativos
relíquias de primeira e segunda classe.
Por fim, quando se beija a relíquia de um
Santo é como se beijasse a misericórdia de Deus que se realizou naquele Santo.
Quando oro diante do corpo de um Santo,
agradeço a Deus que conduziu esta pessoa no caminho rumo à Santidade.
Devemos sempre lembrar-nos que, por meio dos
Santos, adoramos a Deus. As Relíquias nos ajudam sobremaneira a dizer a si mesmo
e ao mundo que a santidade é possível. Para nós, é possível viver e conviver
como homens e mulheres numa mesma fraternidade, como irmãos ou como irmãs,
doando as nossas vidas em favor de uns dos outros por causa de Nosso Senhor
Jesus Cristo.
Salvador, 04 de novembro de 2016,
da Cúria Provincial dos Capuchinhos da Bahia
e Sergipe.
Frei Liomar Pereira da Silva, ofmcap.
Ministro Provincial
Frei Ulisses Pinto Bandeira Sobrinho, ofmcap.
Assistente Regional da OFS – Regional Nordeste B3
EXORTAÇÕES
DE SÃO FRANCISCO
1.
DO CORPO DE CRISTO
|
|
O senhor Jesus disse aos seus discípulos: “Eu sou o caminho, a verdade, e a vida.
Ninguém vai ao Pai senão por mim. Se me conhecêsseis também conheceríeis meu
Pai. E já agora vós o conheceis, e tendes visto”. Disse-lhe Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta”.
E respondeu-lhes Jesus: “Há quanto
tempo estou convosco, e ainda não me conheceis? Filipe, quem me vê a mim, vê
também meu Pai”. (Jo 14, 6-9).
O Pai habita numa luz inacessível (1Tm 6, 16). E
Deus é espírito (Jo 4, 24). E a Deus nunca ninguém viu (Jo 1, 18). Pois Deus
é espírito, não pode ser visto senão graças ao espírito, porque o espírito é
que dá vida e a carne não serve para nada (Jo 6, 63). Ora, também o Filho
enquanto é igual ao Pai, de ninguém pode ser visto senão do modo como se vê o
Pai, senão, do mesmo modo, graças ao Espírito Santo.
E, por conseguinte, todos os que viram em nosso
Senhor Jesus Cristo a sua humanidade, e não viram nem creram, segundo o
espírito divino, que ele era o verdadeiro Filho de Deus, tiveram sentença de
reprovação. Do mesmo modo, também agora têm sentença de reprovação todos os
que vêem o sacramento consagrado pelas palavras do Senhor, sobre o altar, por
intermédio dos sacerdotes, mas não vêem nem crêem, segundo o espírito divino,
que é de verdade o Corpo e Sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, conforme o
atesta o Altíssimo, que diz: - Isto é o meu Corpo e o Sangue da Nova Aliança,
que será derramado por muitos (Mc 14, 22. 24). E ainda: - Quem come a minha Carne
e bebe o meu Sangue, tem a vida eterna (Jo 6, 55).
Portanto, o que tem o espírito do Senhor que
habita nos seus fiéis, esse, sim, recebe o santíssimo Corpo e Sangue do
Senhor. Os demais, que não partilham desse espírito e todavia presumem
comungar, esses comem e bebem a sua condenação (1Cor 11, 20).
Por isso, ó filhos dos homens, até quando haveis
de ser de coração duro?(Sl 4, 3). Porque não reconheceis a verdade, e
acreditais no Filho de Deus? (Jo 9,35). Eis que ele se humilha cada dia, como
quando baixou do seu trono real (Sb 18, 15), a tomar carne no seio da Virgem;
cada dia vem até nós em aparências de humildade; cada dia desce do seio do
Pai, sobre o altar, para as mãos do sacerdote. E assim como aos santos
Apóstolos se mostrou em carne verdadeira, assim agora se mostra a nós no pão
sacramentado. Os Apóstolos com a sua vista corporal viam apenas a sua carne;
mas, contemplando-o com olhos do espírito, acreditavam que ele era Deus. De
igual modo, os nossos olhos de carne só vêem ali pão e vinho; mas saiba a
nossa fé firmemente acreditar que ali está, vivo e verdadeiro, o seu
santíssimo Corpo e Sangue. E é desta forma que o Senhor está sempre com os
que creem nele, segundo ele mesmo prometeu: - Eis que estou convosco até à
consumação dos séculos (Mt 28, 20).
|
|
|
2.
DO
PECADO DA PRÓPRIA VONTADE
|
|
|
O Senhor disse a Adão: “Do fruto de todas as
árvores do paraíso, podes comer; mas não comas do fruto da árvore da ciência
do bem e do mal”. (Gn 2, 16-17). Podia, pois, Adão comer de todas as árvores
do paraíso; e, enquanto não foi contra a obediência, não pecou.
Come do fruto da árvore da ciência do bem e do
mal, quem se faz dono da sua vontade, e se ensoberbece com os bens que o
Senhor por meio dele diz e faz. A este que, por sugestão do demônio, assim
transgride o que o Senhor mandou, suas obras tornam-se fruto da ciência do
mal. E, por consequência, terá ele de sofrer a respectiva pena.
|
|
3.
A
VERDADEIRA OBEDIÊNCIA
|
|
O Senhor diz no Evangelho: - Quem não renuncia a
tudo quanto possui, não pode ser meu discípulo (Lc 14, 33); e: - Quem quiser
salvar a sua vida, perdê-la-á (Lc 9, 24).
Renuncia a tudo quanto possui, e perde o seu
corpo e a sua alma, quem todo se abandona à obediência nas mãos do seu
superior. E, deste modo, tudo quanto faz ou diz, desde que seja bem e não vá
contra a vontade do superior, é verdadeira obediência.
E o súbdito, muito embora veja, alguma vez, que
há coisas de mais proveito e utilidade para a sua alma, do aquelas que o
superior lhe manda, mesmo então sacrifique a Deus a sua própria vontade e cuide
de cumprir o que o superior lhe ordenou. Pois é esta obediência de caridade
(1Pe 1, 22), que contenta a Deus e ao próximo.
E se acontecesse o superior mandar ao súbdito
qualquer coisa contra a sua alma, muito embora nesse caso lhe não deva
obediência, nem por isso de agastado, o abandone. E se, por tal motivo, tiver
de sofrer perseguições da parte de alguns, trate-os com mais caridade ainda,
por amor de Deus, pois quem antes quer sofrer perseguições, que abandonar o
convívio dos irmãos, esse vive verdadeiramente em perfeita obediência, porque
dá a sua vida pelos seus irmãos (Jo 15, 13)
Muitos religiosos há que, a pretexto de terem
descoberto coisas melhores que aquelas que os superiores mandam, olham para
trás (Lc 9, 62), e tornam ao vômito da vontade própria (Pr 26, 11); 2 Pe 2,
22). Esses tais são homicidas, porque com o seu mau exemplo levam muitas
almas à perdição.
|
|
4.
NINGUÉM
SE APROPRIE DO OFÍCIO DE “SUPERIOR”
|
|
Eu não vim para ser servido, mas para servir, diz
o Senhor (Mt 20, 28).
Os que receberam o ofício de mandar nos outros,
tanto se gloriem desse ofício, quanto se gloriariam se fossem encarregados de
lavar os pés aos irmãos. E sentirem-se, quando os dispensam do ofício, mais
do que se sentiriam se houvessem dispensado de lavar os pés aos irmãos, sinal
seria de que entesoiravam para si riquezas, que são perigo para a própria
alma.
|
|
5.
QUE NINGUÉM SE ENSOBERBEÇA, MAS, SIM, SE
GLORIE NA CRUZ DO SENHOR
|
|
Ó homem, considera a quanta grandeza o Senhor te
levantou, pois te criou, dando-te um corpo à imagem do seu Filho dileto, e
dando-te um espírito à sua própria semelhança (Gn 1, 26).
E, no entanto, todas as criaturas que há debaixo
dos céus, cada uma delas, a seu modo, serve e reconhece e obedece ao seu
Criador, bem melhor que tu o fazes. Mais ainda: Não foram os demônios que o
pregaram na cruz, mas tu com eles o crucificaste, e ainda agora o crucificas,
quando te deleitas nos vícios e pecados.
Donde te vem então os motivos para te
vangloriares? Supõe mesmo que eras tão arguto e sábio que abarcavas todo o
saber (1Cor 13, 2), entendias todas as línguas (1Cor 12, 28, sutilmente
perscrutavas todos os segredos dos céus. De nenhuma coisa destas te poderias
gloriar, pois um só demônio soube das coisas dos céus, e ainda agora sabe das
coisas da terra, mais do que todos os homens juntos, mesmo daqueles que
receberam do Senhor luzes especiais da mais alta sabedoria.
De igual modo, foras tu o mais famoso e rico dos
homens, fizeras até maravilhas como as de expulsar demônios, de nada disso te
poderias gloriar, porque tudo isso te seria prejudicial e coisa alguma dessa
te pertencia.
Pelo contrário, podemos, sim gloriar-nos nas
nossas fraquezas (2Cor 12, 15) e no carregar às costas, cada dia, com a cruz
de Nosso Senhor Jesus cristo (Lc 14, 27).
|
|
6.
A IMITAÇÃO DE CRISTO
|
Irmãos, ponhamos todos diante dos olhos o Bom
Pastor que, para salvar as suas ovelhas, sofreu a paixão da cruz. As ovelhas
do Senhor seguiram atrás dele, na tribulação e na perseguição e no opróbrio,
na fome e na sede, na enfermidade e na tentação, e nas demais provações; e,
como recompensa, receberam do Senhor a vida eterna.
Disto deveríamos ter vergonha, nós os servos de
Deus: Que os santos tenham praticado boas obras, e nós, só de contar e pregar
o que eles fizeram, já daí queremos receber honra e glória (4).
|
7.
QUE DA CIÊNCIA NASÇAM BOAS OBRAS
|
O Apóstolo diz: A letra mata, só o espírito dá
vida (2Cor 3, 6).
A letra mata os que se contentam com aprender
palavras, para serem tidos entre os outros por mais sábios, e poderem
adquirir grandes riquezas e dá-las a parentes e amigos.
A letra mata também aqueles religiosos que, em
vez de seguirem o espírito das divinas Escrituras, só cuidam de lhes aprender
as palavras para as ensinar aos outros.
Pelo contrário, o espírito das divinas Escrituras
dá vida aos que nas letras que sabem e desejam aprender, não procuram o
próprio proveito, mas, pela palavra e exemplo, com elas prestam homenagem ao
Altíssimo Senhor, a quem pertence todo o bem.
|
8.
FUGA DO PECADO DA INVEJA
|
O Apóstolo diz: Ninguém pode dizer "Jesus é
o Senhor", senão movido do Espírito Santo (1Cor 12, 3). E vem noutro
lugar da Escritura: Não há quem pratique o bem, não há nem sequer um só (Rm
3, 12).
Portanto, todo o que tiver inveja a seu irmão
pelo bem que o Senhor diz e faz por meio dele, comete pecado de blasfêmia,
pois tem inveja ao mesmo Altíssimo (cf. Mt 20, 15), que é quem diz tudo o que
é bom.
|
9.
O AMOR AOS INIMIGOS
|
Diz o Senhor: Amai os vossos inimigos, fazei bem
aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam (Mt 5, 44)
Ama de verdade o seu inimigo aquele que não sente
a injúria dele recebida; mas, antes, sente por amor de Deus, o pecado por ele
cometido, e por obras lhe mostra a sua caridade.
|
10.
MORTIFICAÇÃO CORPORAL
|
|
Muitos quando pecam ou recebem injúria facilmente
carregam a culpa sobre o inimigo ou sobre o próximo. Pois, não está certo,
porque cada um tem em seu poder o inimigo, ou seja, o corpo com que peca.
Por isso, bem-aventurado é o servo que, (Mt 24,
46) visto ter em seu poder tal inimigo, sempre o traz sujeito e dele se
guarda com prudência; porque, procedendo assim, nenhum outro inimigo visível
ou invisível lhe poderá fazer mal.
|
|
11.
NINGUÉM SE ESCANDALIZE COM O PECADO DE
OUTRÉM
|
Ao servo de Deus nenhuma outra coisa o deve
desgostar, senão o pecado.
E seja qual for o pecado cometido por alguém, se
o servo de Deus se perturba e indigna por outro motivo que não seja a
caridade, entesoura para si aquele pecado (Rm 2, 5).
Mas o servo de Deus que de nada se indigna ou
perturba, vive vida reta, sem nada próprio.
E bem-aventurado é o que nada reserva para si,
dando a César o que é de César e a Deus o que é de Deus (Mt 22, 21).
|
12.
COMO RECONHECER O ESPÍRITO DO SENHOR
|
Eis como o servo de Deus pode reconhecer se tem o
espírito de Deus.
Quando o Senhor opera por mio dele alguma obra
boa, se a sua carne, sempre inimiga do bem, nem por isso se orgulha, antes
ele então se tem por mais desprezível aos próprios olhos, e se julga o menor
de todos os homens, sinal é de que tem o espírito do Senhor.
|
13.
A PACIÊNCIA
|
Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus (Mt
5, 6) (5).
Não se pode saber quanta paciência e humildade
tem enquanto tudo lhe corre à medida dos seus desejos. Mas venham tempos em
que o contrariem os que o deviam contentar, a paciência e humildade que então
mostrar, essa é que tem e não mais.
|
|
|
|
|
|
14.
A POBREZA DE ESPÍRITO
|
|
Bem-aventurados os pobres de espírito, porque é
deles o reino dos céus (Mt 5, 3).
Há muitos que rezam compridos ofícios e orações,
e maceram o corpo com jejuns e penitências, mas por palavra que lhes pareça
injúria, ou por ninharia que lhes tiraram, logo se descompõem e perturbam.
Não são estes os pobres de espírito, porque
verdadeiro pobre de espírito é aquele que a si mesmo se despreza(Lc 14, 26;
Jo 12, 25), e ama os que o ferem no rosto (Mt 5, 39).
|
|
15.
A PAZ
|
|
Bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão
chamados filhos de Deus (Mt 5, 9).
Pacíficos, de verdade, são aqueles que, seja o
que for que neste mundo tenham de sofrer, sempre por amor Nosso Senhor Jesus
Cristo conservam em paz a alma e o corpo.
|
|
|
16.
A PUREZA DE CORAÇÃO
|
|
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles
verão a Deus (Mt 5, 8).
Têm o coração limpo, aqueles que desprezam os
bens da terra e buscam os do céu, e não cessam nunca de adorar e contemplar,
com alma e coração puros, ao Senhor Deus, vivo e verdadeiro.
|
17.
O SERVO DE DEUS HUMILDE
|
|
Bem-aventurado o homem que não se gloria mais no
bem que o Senhor diz e obra por meio dele, do que do bem que o Senhor diz e
obra por meio dos outros.
Peca o homem que mais quer receber do seu
próximo, do que de si quer dar ao Senhor Deus.
|
|
|
|
|
18.
COMPAIXÃO E POBREZA INTERIOR
|
Bem-aventurado o homem que suporta o próximo em
sua fragilidade, como quereria por ele ser suportado, se em circunstâncias
semelhantes se encontrasse (Mt 7, 12; Gl. 6, 2)
Bem-aventurado o servo que atribui
todos os seus bens ao Senhor Deus, porque aquele que reserva para si alguma
coisa, esconde dentro de si o dinheiro do seu Senhor (Mt 25, 18), e o que
julga possuir, ser-lhe-á tirado (Lc 8, 18).
|
19.
O HUMILDE SERVO DE DEUS
|
Bem-aventurado o servo que não se tem por melhor
quando os outros o louvam e honram, do que quando o tratam por pessoa de
nada, simples e desprezível, pois, quanto vale o homem aos olhos de Deus,
isso vale e não mais (6).
Ai do religioso que, uma vez posto
pelos outros em dignidade nas alturas, depois por sua vontade não quer
descer. Mas bem-aventurado aquele servo que sem querer foi posto em alto, e
sempre deseja meter-se debaixo dos pés dos outros.
|
20.
O BOM RELIGIOSO
E O RELGIOSO FRÍVOLO
|
Bem-aventurado o religioso que não sente
satisfação e alegria senão nas santíssimas palavras e obras do Senhor, e com
elas leva os homens ao amor de Deus em gozo e alegria (Sl 50, 10).
Mas ai do religioso que todo se compraz nas falas
e ditos ociosos e frívolos, e com eles procura levar os homens ao riso!
|
21.
O RELIGIOSO DISCRETO E LOQUAZ
|
Bem-aventurado o servo que não compra louvores
com palavras, nem conta seus segredos de guardar, nem se precipita com
palavras impensadas (Pr 29, 20), mas judiciosamente pondera o que deve dizer
ou responder.
Mas ai do religioso que não guarda
em segredo, no coração (Lc 2, 19. 51), o bem que Deus lhe faz, e em vez de
deixar que os outros em suas obras o vejam, por si lho apregoa para deles
haver aplausos. Já nisso recebe a recompensa, e os que o ouvem, pouco fruto
recolhem (Mt 6, 2; 6, 16).
|
22.
A HUMILDADE NA CORREÇÃO
|
Bem-aventurado o servo que suporta de outrem a
correção, acusação e repreensão, com tanto alma, como se de si mesmo as
recebera.
Bem-aventurado o servo que, repreendido, com
generosidade se submete, com respeito obedece, humildemente confessa a falta,
e de boamente a repara.
Bem-aventurado o servo que não é
fácil em se desculpar, e humildemente suporta a afronta e repreensão, mesmo
de falta que não cometeu.
|
23.
A VERDADEIRA HUMILDADE
|
Bem-aventurado o que se mostra tão humilde entre
os seus súbditos, como entre os seus superiores.
Bem-aventurado o servo que sempre se mantém sob a
vara da disciplina.
Servo fiel e prudente (Mt 24, 45)
é aquele que, quando faz qualquer ofensa, não demora em a castigar em si,
interiormente pela contrição e exteriormente pela confissão da culpa e
satisfação de obra.
|
24.
A VERDADEIRA CARIDADE
|
Bem-aventurado o servo que ama com
afeto igual ao irmão enfermo que não pode retribuir, como ao outro que tem
saúde e de quem por isso pode esperar favores em paga.
|
25.
AINDA SOBRE O AMOR
|
Bem-aventurado o servo que tanto
ama e respeita o seu irmão quando está ausente, como quando está presente, e
nada diz dele na ausência, que com caridade lhe não pudesse repetir na
presença.
|
26.
OS SERVOS DE DEUS DEVEM HONRAR OS
SACERDOTES
|
Bem-aventurado o servo de Deus que confia nos
clérigos que vivem retamente, segundo a forma da santa Igreja Romana.
Mas ai daqueles que os desprezam: porque embora
possam ser pecadores, ninguém se atreva a julgá-los, pois o mesmo Senhor
reserva para si o seu julgamento.
Porque quanto sobreexcede a todos
os demais, o ministério que eles têm do santíssimo Corpo e Sangue de nosso
Senhor Jesus Cristo, que eles recebem e só eles aos outros administram, 4
tanto o pecado cometido contra eles é mais grave do que os cometidos contra
todos os demais homens deste mundo.
|
27.
DAS VIRTUDES CONTRÁRIAS AOS VÍCIOS
|
· Onde mora caridade e sabedoria, não há temor nem
ignorância.
· Onde mora paciência e humildade, não há ira nem
perturbação.
· Onde mora pobreza com alegria, não há cobiça nem
avareza.
· Onde mora recolhimento e meditação, não há
desassossego nem dissipação.
· Onde o amor de Deus guarda a porta (Lc 11, 21) o
inimigo não pode entrar.
· Onde mora misericórdia e discrição não há nem
superficialidade nem dureza de coração.
|
28.
HÁ QUE OCULTAR O BEM PARA QUE NÃO SE PERCA
|
Bem-aventurado o servo que entesoura no céu (Mt
6, 20) as graças que o Senhor lhe concede, e não anda a apregoá-las aos
homens na esperança de haver deles recompensa; pois que o mesmo Altíssimo se
encarregará de as manifestar a quem muito bem lhe aprouver.
Bem-aventurado o servo que guarda
em seu coração (Lc 2, 19. 51) os segredos do Senhor.
|
____________
ROSTOS
DA SANTIDADE
São Francisco de Assis
Estranhamos às vezes, por desconhecimento, a imagem de um crânio nas mãos, nos pés, ou próximo de algum santo. Vê-se isso muito frequentemente com imagens de São Francisco de Assis.
O que significa?
É um simbolismo que vem desde a Idade Média para representar um traço marcante da espiritualidade do santo: a penitência, no sentido de afastamento das vaidades da vida; do morrer para o Mundo; reconhecer-se pó; viver humanamente como se somente pó fossemos. Entregar-se plenamente à verdadeira Vida que é Cristo.
São Francisco de Assis, entre outros traços fortes de sua espiritualidade, mostra absoluto desapego às vaidades. Daí muitos artistas, orientados ou por iniciativa própria, tiveram a preocupação de isso acentuar; como outros se preocuparão com mostrar o traço social; outros, a singeleza, a missionariedade, o espírito orante, contemplativo, a fraternidade universal...
São rostos da santidade.
Portinari
Portinari
Frei Pedro da Silva Pinheiro OFM
Frei Pedro da Silva Pinheiro OFM
Frei Pedro da Silva Pinheiro OFM
Frei Pedro da Silva Pinheiro OFM
AS SANTAS CHAGAS:
assinatura seráfica de Cristo
na vida do Santo de Assis
I
Qual aspecto pode-se considerar o mais fundamental na espiritualidade de
São Francisco de Assis?
1.
Para conhecer verdadeiramente a
maturidade espiritual de um santo é necessário observá-lo no final da vida
terrena e verificar o que nele foi constante, aquilo que mais se desenvolveu e
o que ele ainda perseguia. Também, se possível, o que deixou escrito para
orientação dos que pretendem segui-lo. Felizmente, sobre são Francisco podemos saber
como se achava ele no final de sua vida terrena; pois há documentos nos quais
se encontram palavras-chave que mostram suas derradeiras preocupações espirituais.
E muitos são os fortes traços da sua espiritualidade. E entre tantos escolhemos
aqueles que mais nos chamam a atenção. Seja por carência de algum deles em nossa vida pessoal seja pela carência no mundo a nossa volta.
2.
Pois, então, dois anos antes
de sua morte encontramos São Francisco fazendo um pedido ao Senhor: que lhe
desse a graça de sentir um pouco do amor que Ele, Deus, sentia. E, na medida
do possível, as dores que Ele, Deus, sentira na cruz. E aqui está, sem dúvida, o dado mais
significativo de sua espiritualidade: seu profundo desejo de cada vez mais
conformar-se ao Cristo crucificado. Não há discipulado maior que isso. Que não
se trata de querer sofrer, do modo como usualmente se pensa, mortificação para
provar algo a Deus, mas sim querer experienciar a humanidade e, humildemente, a
divindade de Jesus. Ou seja, o desejo do Santo de Assis era conformar-se o
máximo possível a Cristo; o forte desejo da plenitude discipular. Se toda a sua
vida de penitência fora um claro esforço para pregar, com gestos, a essência do
Evangelho, no final o que ele nos mostra é um estado contemplativo onde cada vez mais
maravilhado contempla o Amor que
Deus é. E quis conformar-se da forma maximamente possível a Ele. Sua
vida de converso, reconhecida como das mais altas e de clara santidade, foi movida
pela certeza de que, para melhor servir missionária e apostolicamente ao Senhor,
devia fazer-se como espelho que refletisse entre os homens um pouco da forma como Deus-Amor se manifestara para nossa
salvação. E é com esse desejo que ele diz “Senhor,
permita-me o quanto possível sofrer e amar como Tu nos ama e testemunhou na cruz”. Francisco maravilhava-se com o
fato de Deus não ter se deixado crucificar como forma encenada de amor, mas sim, real, concreta: Deus-homem voluntariamente despojado daquilo que aos
homens mais caracteriza a Divindade, a saber, o Poder.
3.
Foi a nossa condição pecadora que
exigiu de Deus, para nos ser convincente, tal sacrifício como extremo
testemunho de tanto nos querer. E humano, demasiadamente humano, quis são
Francisco não ter dúvida, consigo mesmo (não para nós), de que sua conversão
não fosse só mais uma encenação de imitação de Cristo. Mas sim real; concreta. E
foi a cruz que se lhe mostrara a forma essencial e fundamental de viver Cristo, como
dissera São Paulo. Nela São Francisco entendeu o martírio-testemunho do Amor
pelo fato de ser verdadeiramente Amor. E com isso mais do que reverência, ou temor,
sentiu dó desse Amor; do Amor que se tornara homem “pobrezinho”; abandonado numa
cruz e em todas as cruzes.
4.
Dó do
Amor. Assim diz o canto: “Mas o Amor,
o amor não é amado”. A dó sentida por São Francisco tinha caráter materno. Um materno amor por Aquele antes já docemente "crucificado" num presépio. E a forma de Francisco demonstrar ao
pobre Deus que o Seu sacrifício redentor não fora em vão foi pedindo-Lhe para
fazer dele, discípulo tardio, o quanto fosse possível, ser capaz de assumir entre os
homens um tanto de Sua dor e outro tanto do Seu amor. E esse estranho pedido terminou
atendido. E como sinal externo Cristo apôs as Santas Chagas no corpo de Francisco como se
apusesse uma assinatura atestando a verdade de sua santidade.
5. Daí podermos
concluir, sem dúvida, que o principal eixo da espiritualidade de são Francisco
vem a ser o amor a esse Amor esvaziado de
toda honra e glória. O amor a Cristo na cruz.
Ivo Mariano
Coordenador de Formação
Regional Nordeste B3 (Bahia-Sergipe)
Ter este Amor intenso para amar o jeito de Francisco amar o Cristo a partir de suas dores na cruz é um grande desafio para nós franciscanos diante das turbulências do século XXI.
ResponderExcluirPaz e Bem,
lindas imagens de São Francisco, nos faz refletir.
ResponderExcluirA reflexão sobre a Imaculada Conceiçao é perfeita. Paz e bem!
ResponderExcluirParabéns pelas reflexões. Gosto muito.
ResponderExcluir